
Foto: MANUEL SILVESTRI / REUTERS
Autor: Domenico De Masi
A grande filósofa Agnes Heller dividiu as necessidades humanas em duas categorias: as quantitativas e alienadas; e as qualitativas e radicais. As primeiras consistem nas necessidades insanas de dinheiro, poder e posse de bens; as segundas consistem em necessidades saudáveis de introspecção, amizade, amor, brincadeira e convívio.
Nesta fase de isolamento forçado, após uma vida transcorrida em nome de necessidades alienadas, todo o país está redescobrindo a prioridade das necessidades radicais e a suavidade de um tempo dedicado a nós mesmos e à nossa família: o tempo do ócio criativo. Mas, por trás desta habitação quase serena à sedentariedade forçada, se insinua cada vez mais inquietante o medo do amanhã. O país inteiro está parado; as fábricas estão quase todas fechadas; por alguns meses, nosso produto bruto estará próximo de zero e o futuro, com a tempestade encerrada e os mortos sepultados, terá que ser inventado, nunca tendo sido experimentado antes o que significa, para um povo inteiro, consumir sem produzir.